5 de ago. de 2012

Neruda

A lua no labirinto



Pouco a pouco e também muito a muito

me aconteceu a vida,

e que insignificante é este assunto:

estas veias levaram 

sangue meu que poucas vezes vi,

respirei o ar de tantas regiões

sem guardar para mim uma amostra de nenhum

e afinal de contas já o sabem todos:

ninguém leva nada de seu

e a vida foi um empréstimo de ossos.

O belo foi aprender a não se saciar

da tristeza nem da alegria,

esperar o talvez de uma última gota,

pedir mais ao mel e às trevas.


Talvez fui castigado:

talvez fui condenado a ser feliz.

Fique afirmado aqui que ninguém 

passou perto de mim sem me compartir.

E que meti a colher até o cotovelo 

numa adversidade que não era minha,

no padecimento dos outros.

Não se tratou de palma ou de partido

mas de pouca coisa: não poder

viver nem respirar essa sombra,

com essa sombra de outros como torres,

como árvores amargas que o enterram,

como pancadas de pedra nos joelhos.


A tua própria ferida se cura com pranto,

a tua própria ferida se cura com canto,

mas a tua porta mesmo se dessangra 

a viúva, o índio, o pobre, o pescado,

e o filho do mineiro não conhece

o seu pai entre tantas queimaduras.

Muito bem, mas o meu ofício

foi

a plenitude da alma:

um ai de gozo que te corta a respiração,

um suspiro de planta derrubada

ou o quantitativo da ação.


Eu gostava de crescer com a manhã,

embeber-me de sol, com pleno gozo

de sol, de sal, de luz marinha e onda,

e nesse avanço da espuma

fundou meu coração seu movimento:

crescer com profundo paroxismo

e morrer se derramando na areia.


PABLO NERUDA


Neruda como sempre inesquecível...amooooo



O Evangelho das Bruxas

Nos tempos dos druidas eles eram escolhidos pela Grande Sacerdotisa e somente a ele era confiado à guarda dela... Sendo assim a expressão de que dois corpos se unem em um só, foi dada através desta escolha... Duas almas, duas vidas, dois corpos, duas metades...
Neste mundo, a deusa é vista na lua, aquela que brilha na escuridão, aquela que traz a chuva, que move as marés, a senhora dos mistérios.
E, enquanto a lua cresce e míngua, e anda três noites no seu ciclo da escuridão, diz-se que a deusa, certa vez passou três noites no reino da morte.
Pois, no amor, ela sempre busca seu outro self e, uma vez no inverno do ano em que ele havia desaparecido da terra verde, ela o seguiu e chegou, finalmente, aos portões além dos quais os vivos não entram.
O guardião do portão desafiou-a e desnudou-se de suas roupas e jóias, pois nada pode ser levado para aquela terra.
Por amor ela estava ali confinada como todos os que ali penetram, e foi conduzida à morte.
Ele a amava e ajoelhou-se a seus pés, deu-lhe o beijo quíntuplo e disse:
- Não retorne ao mundo dos vivos, mas permaneça aqui comigo e tenha paz, descanso e conforto...
Mas ela respondeu: Por que você faz com que todas as coisas que amo e prezo murchem e morram?... Senhora - disse ele -É destino de tudo que aquilo que vive morrer... Tudo passa, tudo se esvai... Eu trago conforto e consolo para aqueles que cruzam os portões, para que possam rejuvenescer, mas você é o desejo do meu coração, não volte, fique aqui comigo....
E ela ficou com ele durante três dias e três noites, e ao final da terceira noite, ela colocou sua coroa, que se tornou o diadema que ela colocou em seu pescoço, dizendo: - Eis o circulo do renascimento... Através de você todos saem da vida, mas através de mim todos podem renascer novamente... Tudo passa tudo muda... Mesmo a morte não é eterna... O Meu é o mistério do ventre, que é o caldeirão do renascimento...
Penetre em mim e me conheça e estará liberto de todo o medo... Pois se a vida é somente uma passagem para a morte, a morte é somente uma passagem de volta para a vida e em mim, o círculo sempre gira.
Amorável ele penetrou-a e assim renasceu para a vida.
No entanto ele é conhecido como senhor das sombras, o confortador e consolador, aquele que abre os portões, rei da terra da juventude, o que dá paz e descanso.
Mas ela é a mãe de toda a vida; dela todas as coisas nascem e para ela devem retornar novamente.
Nela estão todos os mistérios da morte e do renascimento; nela encontra-se a realização de todo o amor.
Esta é uma das histórias que são contadas nos tempos de uma das vidas do Guardião e da sua Sacerdotisa.




Simplesmente perfeito,um texto que a muito peguei na net,alias uma passagem de um livro...
beijos de dália





Dança da escrava recém encoleirada

Dalia escuta o som da música e caminha vagarosamente até o centro do recinto, coração em descompasso, corpo tremulo, mistura de sensações ...